Gastar dinheiro é difícil para mim.
Embora nunca tivesse faltado nada em minha casa e, por isso sou sem dúvida privilegiada, sempre tive muito contacto com a dificuldades de dinheiro que os meus pais passavam.
Os meus pais têm um negócio próprio. Ter um negócio próprio não é fácil e é muito mais difícil ter um rendimento estável, isso era objeto de muitas discussões que, desde pequena, ouvia e me preocupavam.
Isso traduziu-se em estar constantemente preocupada em relação a gastar dinheiro e só agora, anos depois de eu ter começado a trabalhar e de ter o meu próprio dinheiro é que posso dizer que tenho uma relação melhor com dinheiro, não a melhor mas melhor que antes.
Por isso, nunca quis gastar muito dinheiro em roupa, sentia que havia coisas mais importantes onde gastar dinheiro.
Para além deste tema do dinheiro, também não gosto particularmente de comprar roupa.
Há peças que acho lindas mas que depois não me ficam bem, andar a experimentar roupa não é algo que me agrade e por vezes não há nada que me chame a atenção.
Era TÃO frustrante para mim ir às compras.
Há uns anos atrás, se eu começasse a experimentar roupa numa loja e não gostava nada de me ver com ela, começava a desistir ou ficava mesmo triste comigo.
Estou gorda, o meu tipo de corpo não fica bem com este tipo de roupa, não posso ser uma pessoa estilosa como as minhas amigas.
A culpar-me de algo que não tinha culpa.
A culpa também era daquelas etiquetas de roupa que diziam que eram 40 mas que não me serviam, que só me faziam pensar, estou mais gorda?
Ou aqueles espelhos que embora sirvam para fazer parecer uma pessoa mais magra sempre me aterrorizaram.
Quantas vezes é que tinha de comprar roupa e saí sem comprar nada?
Quantas vezes é que chorei depois de ir às compras porque não havia nada que eu gostasse e que me ficasse bem?
Eu queria ser um pouco como aquelas pessoas estilosas que eu conhecia ou que via online. Adorava por exemplo o estilo da Charlotte.
Porquê que eu não podia vestir-me tão bem como essas pessoas?
E virei-me assim para a compra em segunda mão.
Comprar usado não é algo muito usual em Portugal, tem tornado-se cada vez mais aceitável embora ainda se pense que comprar usado é nojento.
Ainda assim, quando comecei a viver no Porto, numa cidade maior, comecei a ter mais acesso a lojas e mercados em segunda mão.
Ter acesso a esta roupa em segunda mão, fez-me aceitar mais o meu corpo, fez-me ver que há outro tipo de roupa sem ser aquela que vemos na Zara ou na Bershka – nada de mal com isso mas o problema é que muita dessa roupa não me ficava particularmente bem, pelo menos fora as básicas.
Comprar usado mudou muito esta perspetiva que tinha que comprar roupa era um pesadelo.
Admito que o passar do tempo tem-me também ajudado a aceitar-me mais a mim mesma mas acho que comprar roupa usada foi algo revolucionário para mim.
E acredito que pode ser a solução também para ti se te sentes assim.
Porquê que comprar usado ajudou-me tanto?
Uma peça custa menos dinheiro
Não vou mentir – este é o fator mais importante para mim.
Como contei acima gastar dinheiro em mim própria nem sempre é fácil.
Uma das coisas que mais me preocupava ao comprar roupa nova, era se eu iria usar isto o suficiente para valer o dinheiro. Eu ficava ansiosa em gastar 10€ numa peça nova de roupa:
- Será que gosto mesmo disto?
- Mais vale gastar 10€ numa coisa mais útil como comida, na verdade tenho mais roupa que posso usar
- Não preciso assim tanto de roupa, aquilo que eu tenho chega.
Eu sei que isto já é algo que é falado agora, está na moda o minimalismo, mas sempre pensei desta forma e também sei que tem as suas desvantagens.
Porque era uma limitação minha e que me causava ansiedade. Não estou a dizer para comprares quantidades enormes de roupa mas este tipo de restrição também não é saudável – principalmente para alguém que tem de se convencer a comprar algo para si.
Muita roupa que tinha era da minha tia (que ainda me dá imensa roupa usada que adoro, obrigada tia!) que nem sempre combinava comigo ou roupa que tinha desde sempre que, já tinha combinado comigo mas agora, nem tanto.
Comprar usado tirou toda a pressão que eu sentia
Poder comprar uma peça por 1 ou 2€ deu-me liberdade. Se eu comprasse algo e depois não gostasse dela podia sempre dar a instituições ou a alguém conhecido sem ficar a pensar que tinha perdido imenso dinheiro. E deu-me a oportunidade também de comprar coisas que talvez não compraria normalmente, porque são mais diferentes ou não combinam com tudo.
Eu sou uma pessoa bastante prática e calças de ganga e uma camisola faz muito mais sentido do que comprar aquele vestido super fofo que adoro mas que ao mesmo tempo se calhar vou usar menos vezes que as calças.
Comprar novo também levantava a questão ambiental, sentia-me muitas presa por sentir que estava a ser supérflua a comprar roupa nova, a contribuir para o consumismo e para uma sociedade que usava 1 vez e depois deitava fora. Como comprar em segunda mão é mais amigo do ambiente, é também uma forma de não me sentir culpada do meu consumismo.
A possibilidade de descobrir peças diferentes
Sempre me identifiquei estilos um pouco mais alternativos e as lojas “normais” nem sempre tinham algo do meu interesse.
Acho que parte também foi a influência de ler muitos blogs de pessoas que tinham estilos muito pessoais, já mencionei a Charlotte mas também e Elizabeth, havia também um blog que não me recordo do nome em que a pessoa era um pouco mais velha mas usava roupa super colorida e diferente, adorava segui-la!
Lojas e feiras de roupa usada são tão variadas de estilo, têm um pouco de tudo.
Mais discreto, mais excêntrico – tudo no mesmo sítio.
É mais fácil para mim que me sentia assoberbada pela quantidade de lojas que tinha de visitar para descobrir peças fora da caixa.
Deu-me a oportunidade de encontrar o meu estilo
Se eu não gastava dinheiro em roupa, encontrar o meu próprio estilo era difícil.
Por vezes via roupa que era linda e que gostava de ter, mas custava 40€.
Mais vale comprar algo mais simples que possa sempre usar!
Esta peça é linda mas será que vou usá-la durante uma semana e vai ficar no armário?
Isto está relacionado com o primeiro ponto porque o que me bloqueava mais era o dinheiro, mas ao comprar usado pude gastar dinheiro em coisas diferentes e ver outro tipo de roupas que me ficam bem sem sentir que o poderia gastar em comida.
E foi assim que comprar usado me fez melhor aceitar o meu corpo e encontrar o meu estilo.
Agora nos tempos de hoje, não me interessa a etiqueta da roupa, isso não determina o meu valor.
O que interessa é: sinto-me bem com ela? Se sim então é para ir.