Costumava adorar ler posts de “como ler mais livros”, “como leio tanto”, e não havia forma de escapar em eu escrever um post deste género este ano. Principalmente porque é a primeira vez na minha vida que li 88 livros num ano. Não sei se é algo que vou voltar a repetir, teremos de ver mas ainda assim, sinto que tenho algumas lições que posso partilhar contigo.
Como li tanto?
Video em inglês se preferires:
Li sem julgamentos
Antes deste ano, pensava que não devia ler x, y ou z por diversos motivos, um desses motivos era que ler livros românticos não era literatura “a sério” e que devia ler outro tipo de livros. E o que acontecia quando me punha a ler os outros livros? Não tinha vontade de os ler. Por vezes, não acabava de os ler, outras demorava muito tempo e tirava-me qualquer vontade de pegar noutro livro.
Este ano, li tanto porque simplesmente não quis saber. Lia o que me apetecia e aceitei que, para mim, ler não é uma forma de ficar mais culta, é sim um escape, como ver uma série ou um filme. Não vou começar a ler apenas livros não ficção, porque simplesmente não sou assim. E aceitei isso este ano.
Parei de ler livros
Muito similar ao ponto anterior, e também crenças que pomos na cabeça que não fazem sentido, é que eu sempre tentei acabar os livros que começava, mesmo que não estivesse a gostar ou que não sentisse que este era o momento certo para o ler.
Durante este ano, dei por mim a pegar num livro, ler algumas páginas e sentir que não era altura de o ler. Ou ir à biblioteca requisitar livros quando tenho outros livros por ler em casa. Ou mesmo requisitar livros e simplesmente devolvê-los passado 2 semanas. Não me obriguei a começar e também não me obriguei a continuar.
Eu pessoalmente gosto sempre de registar o que estou a ler no Goodreads e sempre me incomodou começar a ler e depois ir lá tirar e dizer que já não estou a ler este livro. Sinceramente, acho que ninguém quer saber se ando a tirar ou a pôr livros no goodreads, mas fazia-me muita confusão dizer que estava a ler um livro e depois já não o estava a ler. A forma como ultrapassei isto foi simplesmente adicionar no Goodreads ou quando acabo o livro, ou quando sinto que quero continuar a ler o livro.
Dei prioridade a ler
Isto parece algo muito básico mas realmente é a verdade. Sem dar prioridade a ler, não teria conseguido ler tantos livros como li. O ano passado, passava pelo menos 20 horas por semana a escrever para este blog, a editar vídeos para o Youtube – eu sei que eles nunca foram muito bons mas não quer dizer que não passasse na mesma muito tempo a fazê-los – no fundo, a tentar crescer este projeto. Este ano, um misto de estar farta de estar no computador e mentalmente cansada pelo confinamento acrescido ao facto de sentir que o meu esforço traduzia-se a pouco, trabalhei muito pouco no RandomCath este ano. Isso significa que fiquei com muito mais tempo para ler.
Falei deste projeto mas a verdade é que, em geral, dei muita prioridade a ler, em vez de pegar numa série nova, ia ler, acabava um livro, começava outro, não queria fazer nada, lia um livro. Acho que dá para entender o que quero dizer.
Comecei a ouvir audiobooks
Já tinha ouvido audiobooks na Universidade, na verdade, penso que li Hunger Games através de um audiobook mas o formato não me tinha convencido. Entretanto, passados mais que 10 anos, posso dizer que estou fã e que os audiobooks foram uma componente muito importante este ano. Adorei ouvir audiobooks, principalmente porque muitos dos que li tinham narradores espectaculares, que puxavam uma pessoa para a história e que nos faziam sentir mesmo a vivenciar a história.
Como gostei tanto deste formato este ano, isso significa que, enquanto estava a fazer tricô, ponto de cruz, cozinhar, ouvi muitos audiobooks. Não estive sempre a ouvir audiobooks, penso que se isso tivesse acontecido o meu total seria muito maior, mas ler enquanto estava a fazer outras coisas definitivamente foi um fator para ter lido tanto este ano. Estou apaixonada pelo formato, quem me dera que houvesse mais aposta neste sentido em Portugal. Na biblioteca do Porto nem consigo requisitar livros em formato audio (uso a minha subscrição numa biblioteca da Nova Zelândia).
Usei os livros como fuga da realidade
Não aconteceu nada relativamente mau este ano, não me posso queixar, os meus familiares e amigos estão bem, as minhas relações pessoais estão bem, mas foi um ano muito duro mentalmente para mim. E os livros foram uma forma de fugir à realidade, entrar numa história, apaixonar-me pelas personagens, viver como as personagens, e durante esse curto período de leitura, eu vivia aquele mundo.
Não sei se isto é algo bom ou não, não o posso recomendar a todos, mas para mim pessoalmente foi algo bom, agarrar-me a estas personagens permitiu-me ser mais forte.
Eu queria escrever sobre este ponto porque é fácil sentir-se intimidado por uma pessoa que leu 88 livros. Eu nunca na vida fiz isto e sempre fiquei a admirar estas pessoas que lêem tanto, mas após este ano, sei que tinha muitos estigmas sobre ler, queria ser intelectual quando ler pode ser simplesmente algo bom para nós. Quando era mais nova e lia muito, não pensava no que estava a ler, se era “produtivo” ou não, se me ia deixar mais culta ou não, se alguém ia olhar para mim de lado se o lesse ou não. Eu lia Sarah Waters, algo especificamente romântico, e não tinha preconceitos se devia ler tanto livro romântico ou não.
Isto tudo para dizer que, ter lido 90 livros não é nada de grandioso. Prioritizar ler e experimentar outros formatos são os dois grandes conselhos que tenho para quem quiser ler mais. Mas para mim este ano, ler foi a melhor forma que consegui para me sentir em controlo da minha vida, em que muitos dos livros já sabia que iam ter um final feliz e também está tudo bem. Cada um arranja os seus mecanismos para lidar com a vida, esta foi a que arranjei este ano.
Por isso, não te sintas mal por ler menos ou mais, lê se queres ler e lê o que queres ler. Não vale a pena estares a forçar-te, principalmente para algo que fazes nos tempos livres.